Como redigir projeto de pesquisa

Capítulo do livro de Antonio Carlos Gil, Como elaborar projetos de pesquisa.

14.1 Como estruturar o projeto?

14.1.1 Partes do projeto

Os projetos de pesquisa precisam ser comunicados. Logo, é necessário que os pesquisadores se preocupem também com sua apresentação formal.

Já foi visto no Capítulo 1 que o projeto só pode ser definitivamente elaborado quando se têm os objetivos bem determinados, assim como o plano de coleta e análise de dados e a previsão dos recursos necessários para sua viabilização. Por conseguinte, a redação do projeto exige que se disponha de informações seguras acerca de todos esses tópicos. Pode ocorrer, no entanto, que em algumas situações se faça necessário apresentar por escrito as intenções de pesquisa. Nestas situações, redige-se um projeto provisório, que mais adequadamente deve ser denominado ante-projeto.

Como as pesquisas diferem bastante entre si, não pode haver, naturalmente, um modelo fixo para redação do relatório. Contudo, é possível definir um esquema capaz de abranger a maioria dos tópicos que habitualmente aparecem nos projetos de pesquisa. Este esquema inclui as partes:

  1. apresentação;
  2. objetivos;
  3. justificativa;
  4. sistema conceitual;
  5. teorias de base;
  6. metodologia;
  7. suprimentos e equipamentos;
  8. custos do projeto e origem dos recursos;
  9. cronograma;
  10. anexos; e
  11. bibliografia.

14. 1.2 Identificação

Nesta primeira parte são apresentados os dados essenciais à identificação do projeto, quais sejam:

  1. título e subtítulo (se houver);
  2. entidade à qual se destina o projeto;
  3. entidade executora;
  4. coordenador.
  5. equipe técnica;
  6. local; e
  7. data.

De modo geral esta apresentação não exige mais do que uma página a página de rosto.

14.1.3 Objetivos

Nesta parte, indica-se o que é pretendido com o desenvolvimento da pesquisa e quais os resultados que se procura alcançar.

A apresentação dos objetivos varia significativamente em função da natureza do projeto. Nos projetos de pesquisa rigidamente científica, assim como naqueles elaborados para fins acadêmicos, cabe identificar claramente o problema, apresentar sua delimitação (em termos conceituais, espaciais e temporais) bem como apresentar as hipóteses a serem testadas (quando for o caso).

Nos projetos destinados à resolução de problemas mais práticos, geralmente procede-se à apresentação do objetivo geral e dos objetivos específicos. Isto é bastante comum nos projetos de pesquisas caracterizadas como levantamentos.

14.1.4 Justificativa

A justificativa consiste na apresentação, de forma clara e sucinta, das razões de ordem teórica e/ou prática que justificam a realização da pesquisa.

No caso de pesquisas de natureza científica ou acadêmica, a justificativa deve indicar:

  1. o estágio de desenvolvimento dos conhecimentos referentes ao tema;
  2. as contribuições que a pesquisa pode trazer com vistas a proporcionar respostas aos problemas propostos ou a ampliar as formulações teóricas a esse respeito;
  3. a relevância social do problema a ser investigado;
  4. a possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema.

No caso de pesquisas de natureza prática, a justificativa deve considerar os objetivos da instituição e os benefícios que os resultados da pesquisa poderão proporcionar.

Os cuidados com a elaboração da justificativa devem ser redobrados no caso de pesquisas para as quais se solicita algum tipo de financiamento, já que a entidade financiadora necessita de boas razões para justificar o investimento.

14.1.5 Sistema conceitual

O estabelecimento do sistema conceitual é exigido em projetos de pesquisa que tratam de temas complexos.

Nestes casos, toma-se necessário definir de forma clara e precisa os conceitos contidos no problema e nas hipóteses. Em muitos casos convém ainda esclarecer acerca do sistema que determinou a classificação conceitual adotada.

Deve ficar claro, porém, que muitos projetos de pesquisa não exigem o detalhamento do sistema conceitual, por se referirem a problemas e hipóteses cujas referências empíricas são imediatas. É o caso, por exemplo, de uma pesquisa que tenha por objetivo verificar como se distribuem num grupo as seguintes características: sexo, idade, estado civil, naturalidade, nível de escolaridade, ocupação e salário.

14.1.6 Teorias de base

Boa parte das pesquisas científicas no campo da Psicologia, Sociologia, Antropologia, Ciência Política e Economia apoia-se em certos supostos teóricos. Nestes casos, torna-se conveniente indicar a teoria ou as teorias que fornecem a orientação geral da pesquisa.

Há que se considerar, no entanto, que nem sempre, na elaboração de um projeto de pesquisa científica, é possível definir com clareza qual a teoria que lhe dará sustentação. Muitas outras pesquisas são desenvolvidas sem que se possa identificar uma teoria que as sustente. Por essa razão, este item não aparece em muitos projetos de pesquisa.

14.1.7 Metodologia

A parte mais complexa na redação de um projeto de pesquisa é constituída, geralmente, pela especificação da metodologia a ser adotada. Diversos itens podem aqui ser considerados, conforme a extensão e a complexidade da pesquisa. De maneira bem abrangente, podem ser considerados os seguintes componentes:

  1. tipo de delineamento;
  2. operacionalização das variáveis;
  3. amostragem;
  4. técnicas de coleta de dados;
  5. tabulação;
  6. análise dos dados; e
  7. forma do relatório.

14.1.8 Suprimentos e equipamentos

Nesta parte, devem ser indicados de maneira detalhada os suprimentos e equipamentos necessários para a realização da pesquisa. Estes equipamentos e suprimentos variam consideravelmente de acordo com o tipo de pesquisa. Dentre os diversos itens que podem ser considerados, citam-se:

  • questionários;
  • formulários;
  • impressos especiais para registro;
  • manuais de instrução para os pesquisadores;
  • manuais de tabulação;
  • equipamentos de registro (lápis, canetas etc.);
  • pastas;
  • brindes para os entrevistados.

14.1.9 Custo do projeto e origem dos recursos

O projeto deve apresentar uma estimativa dos custos da pesquisa. Uma forma prática consiste em reunir os gastos previstos em vários itens, que, por sua vez, são agrupados em duas categorias: gastos com pessoal e gastos com material (ver item 13.3).

Será conveniente, ainda, indicar a proveniência dos recursos. Se são próprios ou de origem externa. Nesta hipótese convém, ainda, indicar o nome da instituição patrocinadora e a natureza do crédito ou do financiamento.

14. 1.10 Cronograma

O projeto deve esclarecer acerca do tempo necessário ao desenvolvimento da pesquisa. Convém que seja indicado o tempo correspondente acada uma das fases da pesquisa. E não se pode esquecer que muitas das atividades são desempenhadas simultaneamente pelos membros da equipe.

Uma maneira prática de representar o tempo a ser despendido no desenvolvimento da pesquisa é mediante a elaboração de um cronograma (ver item 13.2).

14.1.11 Anexos

Devem ser anexados ao projeto de pesquisa modelos dos instrumentos a serem utilizados para a coleta de dados, tais como: formulários, questionários e escalas de atitudes. Dispensam-se da observação deste requisito as pesquisas que utilizam testes psicológicos ou instrumentos não padronizados de coleta de dados.

Devem ainda ser anexados modelos de outros materiais impressos,tais como: manuais de instrução, mapas das áreas de investigação, material estatístico utilizado como base para seleção de amostras etc.

14.1.12 Bibliografia

Nos projetos de pesquisa científica ou acadêmica devem ser relacionados os livros, artigos e outras publicações consultadas, bem como todas as fontes bibliográficas de potencial interesse para o desenvolvimento da pesquisa. Nas pesquisas orientadas para fins práticos pode também ser conveniente a apresentação da bibliografia, sobretudo quando o tema considerado for complexo. Já nas pesquisas desenvolvidas a partir de rotinas preestabelecidas, o item bibliografia pode ser dispensado.

14.2 Como apresentar o projeto?

A forma de apresentação de um projeto varia de pesquisador para pesquisador. Os institutos de pesquisa, entretanto, tendem a adotar fórmulas padronizadas para apresentação de projetos de pesquisa. Isto facilita os trabalhos de elaboração, discussão e aprovação do projeto. Todavia, a excessiva padronização em muitas situações pode ser prejudicial. É ocaso, por exemplo, dos projetos de pesquisa de cunho exploratório, onde não se toma possível, a priori, determinar como se processará a pesquisa. Pode ser, ainda, o caso de certos projetos de natureza estritamente científica que se revestem de características tão específicas que qualquer tentativa de enquadrá-los num modelo rígido servirá para torná-los menos esclarecidos.

A despeito, porém, da flexibilidade quanto à apresentação de projetos, a elaboração de modelos toma-se bastante útil. Por essa razão, anexos a este capítulo são apresentados dois modelos de elaboração de projetos. O primeiro aplicável a pesquisas acadêmicas (doutoramento, mestrado, conclusão de curso etc.) e o segundo a pesquisas de natureza prática,notadamente de opinião e de mercado.

A escolha desses dois modelos deve-se ao fato de referirem-se às pesquisas que mais habitualmente são desenvolvidas. E também porque, ainda que de modo bem geral, podem ser considerados como tipos extremos num contínuo de complexidade.

[Leia o capítulo completo com modelo de projeto de pesquisa]

About José Antonio Meira da Rocha

Jornalista, professor de Planejamento Gráfico e Mídias Digitais da Universidade Federal de Santa Maria, campus da cidade de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil. Doutorando em Design na UFRGS, Porto Alegre, Brasil, 2014.