KÖCHE, José Carlos. Fundamentos da Metodologia Científica. Caxias do Sul: UCS, 1978.
“Em trabalhos científicos a originalidade não está na forma, mas sim no conteúdo” (Castro, 1976, p. 1).
Os trabalhos de pesquisa comportam três partes essenciais interligadas num todo harmônico e equilibrado: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. À parte introdutória cabe a apresentação do que vai ser investigado; ao desenvolvimento cabe a exposição dos testes executados, a análise e a avaliação dos resultados obtidos; à conclusão cabe apontar a relevância do estudo tendo em vista os resultados obtidos.
A – Introdução
O objetivo principal da introdução é situar o leitor no contexto da pesquisa. O leitor deverá perceber claramente o que será analisado, como e porque, as limitações encontradas, o alcance da investigação e suas bases teóricas gerais. Ela tem, acima de tudo, um caráter didático de apresentação, levando-se em conta o leitor a que se destina e a finalidade do trabalho.
Numa introdução consideram-se os seguintes aspectos:
- o problema deve ser proposto para o leitor de uma forma clara e precisa. Geralmente é apresentado em forma de enunciado interrogativo, situando a dúvida dentro do contexto atual da ciência ou perante uma dada situação empírica;
- os objetivos delimitam a pretensão do alcance da investigação, o que se propõe fazer, que aspectos pretende analisar. Os objetivos podem servir como complemento para a delimitação do problema;
- a justificativa destaca a importância do tema abordado tendo em vista o estágio atual da ciência, suas divergências polêmicas ou a contribuição que pretende proporcionar a pesquisa para o problema abordado;
- as definições pertinentes à compreensão do problema devem ser explicitadas. Apenas as estritamente necessárias devem ser colocadas;
- a metodologia deve esclarecer a forma que foi utilizada na análise do problema proposto. Em Pesquisas descritivas e experimentais coloca-se, de maneira geral, os principais procedimentos e técnicas utilizados para a coleta de dados, de tal forma que o leitor tenha uma visão do roteiro utilizado;
- a revisão da literatura proporciona um apanhado geral do que se sabe sobre o assunto investigado. A extensão dessa parte depende principalmente do conhecimento que o leitor poderá ter do assunto e da profundidade do trabalho. Uma revisão da literatura bem feita demonstra o nível de conhecimentos que tem o autor da pesquisa e serve para o leitor avaliar as bases teóricas sobre as quais se processou a investigação;
- as hipóteses devem ser colocadas para proporcionar ao leitor que possíveis soluções ou explicações se propõe o autor, mostrando o que a pesquisa pretende testar;
- as dificuldades devem ser apresentadas, desde que relevantes.
A introdução, assim como todo o trabalho científico, deve ser formulada numa linguagem simples, clara e sintética, colocando aquilo que é necessário para que o leitor tenha uma ideia objetiva do que vai ser tratado.
B – Desenvolvimento
O desenvolvimento é a demonstração lógica de todo o trabalho de pesquisa. Se forem deixadas de lado a introdução e a conclusão, ele deverá subsistir sozinho. Isso significa que o desenvolvimento retoma o problema inicial da introdução, especificado agora sob a forma de enunciado interrogativo que estabelece as relações entre as variáveis, apresenta o resultado dos testes e faz a avaliação das hipóteses colocando as principais conclusões.
Nos relatórios de pesquisas bibliográficas, o problema é retomado e analisado à luz das informações relevantes colhidas na revisão da literatura. O desenvolvimento, nessas pesquisas, se atém a explicar, discutir e demonstrar a pertinência das teorias na explicação do problema proposto analisando e extraindo conclusões sobre suas deficiências ou qualidades explicativas.
Nos relatórios de pesquisas experimentais ou descritivas, procura-se transformar o problema lançado a um nível teórico na introdução em problema empírico. Para tanto, há a necessidade de se utilizar ou definições constitutivas ou as operacionais, ou então o estratagema dos enunciados básicos.
No desenvolvimento do relatório dessas pesquisas deve-se demonstrar a análise e a avaliação das hipóteses lançadas à luz de algum marco teórico, confrontando-as com o resultado obtido pelos testes de falseabilidade.
As hipóteses, variáveis e suas definições empíricas devem estar claramente evidenciadas, bem como todos os procedimentos relevantes utilizados na testagem, de tal forma que o leitor possa reconstruir mentalmente (ou, se quisesse, empiricamente) como a pesquisa foi feita. Convém não colocar, porém, no desenvolvimento a explicação exaustiva dos métodos e técnicas utilizados, mas apenas sua indicação, ou o resultado do que foi obtido, como é o caso dos testes para avaliar a fidedignidade e a validade dos instrumentos. O desenvolvimento segue uma exposição lógica, utilizando-se dos dados constantes em tabelas ou gráficos para demonstrar a validade ou não das hipóteses.
De acordo com as características do problema, das técnicas utilizadas e do estilo do autor pode-se dividir o desenvolvimento em tantas partes quantas forem necessárias, utilizando-se para isso os capítulos, as seções, as subseções, etc., tendo, porém, o cuidado de não perder a unidade.
C – Conclusão
A conclusão tem também sua estrutura própria. Ela deve retomar o problema inicial lançado na introdução revendo as principais contribuições que trouxe a pesquisa.
A conclusão apresenta o resultado final, global da investigação, avaliando seus pontos fracos ou positivos através da reunião sintética das principais ideias desenvolvidas ou conclusões parciais obtidas. Assim como a introdução, a conclusão não entra nos detalhes operacionais dos conceitos utilizados, mas apenas aborda as conclusões parciais do desenvolvimento interrelacionando-as num todo, tendo em vista o problema inicial.
O cuidado que se deve ter é o de a conclusão nunca extrapolar os resultados do desenvolvimento. O resultado final deve ser decorrência natural do que já foi demonstrado.
Afirmou-se que a ciência não é um todo acabado mas que está em contínua construção. É natural, pois, que a pesquisa não esgote por completo o tema investigado. Convém, então, apontar na conclusão os problemas decorrentes do tema investigado que poderão servir para futuras pesquisas. A conclusão, apesar de ser o fecho de um trabalho de pesquisa, não o é da ciência.
Leitura complementar
O estilo e a expressão
“Antes de estudar os estilos de um trabalho de pesquisa, cumpre fazer alguma referência ao problema da própria linguagem. Em primeiro lugar, convém não perder de vista a distinção estabelecida por Heidegger, em estudos recentes, entre a linguagem como instrumento e a linguagem como instauração da realidade. Segundo isto. a linguagem dos poetas é reveladora do ser existente: quando o poeta nomeia – ou diz – evidencia a realidade. Esta concepção metafísica da palavra confere à linguagem um valor existencial, de modo tal que, mais do que um instrumento, ela seria uma forma de vida a partir da qual apreendemos o mundo.
“Se, por outra parte, considerarmos a linguagem como um meio de comunicação ou de transmissão de conhecimento, podemos defini-la como um conjunto convencional de sinais, entendendo por sinais as unidades que a compõem. Se conferirmos à palavra ‘unidade’ seu sentido matemático de quantidade convencional, resulta que, conforme o plano linguístico, escolheremos corno unidade adequada a esse nível: em fonética, será o fonema; em sintaxe, a oração, etc. Sob um ponto de vista instrumental, podemos classificar as formas expressivas em: a) linguagem coloquial. que é a linguagem corrente ou discursiva; b) linguagem literária, isto é, a que usamos com fins estéticos, e c) linguagem técnica, que é o sistema de expressão da ciência e da filosofia (Vera, 1973, p. 181-2).
Referências bibliográficas e bibliografia recomendada
- CASTRO. C. de Moura. Estrutura e Apresentação de publicação científica. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1976.
- CERVO, A. L. & BERVIAN, P. A. Metodologia científica. Passo Fundo: Ed. P. Berthier, 1972.
- FERRARI, A. T. Metodologia de ciência. 3 ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
- LUFT. C. P. Escrito científico: sua estrutura e apresentação. 4 ed. Porto Alegre: Lima, 1974.
- REY. L. Como redigir trabalhos científicos. São Paulo: Polígono e Ed. da Universidade de São Paulo, 1972.
- REMMEL. F. J. Introdução aos procedimentos de pesquisa em educação. Porto Alegre: Globo, 1972.
- SCHRADER. A. Introdução à pesquisa social empírica. Porto Alegre: Globo, Ed. da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1974.
- SILVA, Rebeca Peixoto da et alii. Redação técnica. 2 ed. Porto Alegre: Formação, 1975.
- VERA. A. Metodologia de pesquisa científica. Porto Alegre: Globo, 1973.
Gratidão José, estava travada no desenvolvimento do meu tcc, ainda bem que encontrei seu artigo, muito obrigada.
Que ótima notícia, Silvana! :)
Obrigado pelo prestígio, e sucesso na sua vida profissional pós-TCC.
Olá achei muito interessante esse artigo , eu estou montando meu TCC e venho achando dificuldade em instruturar ele tornar mais atrativo esse é meu maior problema .
Olá, Sula.
Qual seu problema de pesquisa?
Estou no oitavo período de odontologia e sem dúvidas nenhuma esse foi o artigo mais claro e objetivo que encontrei na web. Obrigado professor!
Obrigado pelo prestígio, Patty!
Os autores ficarão agradecidos.
oi Jose Antonio Meira da Rocha sou estudante do curso de Técnico de Segurança do Trabalho estarei concluindo meu curso final de Ano gostaria da sua opinião sobre o tema que escolhi para o mesmo a NR 36. Por se um tema novo o que você acha ?
Obrigada me ajudou bastante, esclareceu minha dúvidas.
Obrigado pelo prestígio, Caroline!
prof como eu posso colocar link nos comentários em um artigo, eu ja vi alguns artigo assim, e coloquei no meu artigo e meu orientador não me explica como posso fazer e só sabe dizer que tá errado
Olá, Ana. Não entendi. Como assim, “colocar link nos comentários de um artigo”? Um artigo numa página Web?