Análise: celular Wei Dream Android

Resolvi arriscar e comprar um celular Android chinês shanzhai. Escolhi um dos mais baratos mas com bons recursos: o Wei Dream. Tem TV analógica, GPS, dois chips simultâneos, câmera na frente e atrás, entre outros recursos.

[Antes de fazer alguma pergunta, leia a FAQ sobre o Wei Dream]

Comprei pela MPWay e o aparelho levou pouco mais de 40 dias para chegar pelos Correios, direto de Hong Kong para o interior do Rio Grande do Sul, Brasil. Custou R$ 199,90 (setembro de 2011), incluídos o frete e um cartão microSD de 2 GB. (Acesse o site da Aduana para calcular o imposto federal. Depois, ainda tem o ICMS).

Neste artigo, faço uma análise do aparelho, eventualmente comparando-o com o Samsung Galaxy 5 que comprei recentemente para minha mulher.

O Wei Dream tem um design bonito e despojado. Sua face é lisa, sem botões. Acima da tela ficam o logotipo do fabricante, o alto falante de chamadas e uma câmera de baixa resolução para vídeo-chamadas. As bordas têm uma proteção cromada e o corpo do aparelho é em material fosco com textura emborrachada. Os únicos botões estão na lateral superior, para ligar e desligar, e dois na lateral direita, controlados por uma única tecla, para aumentar e diminuir o volume. Na parte de baixo da tela, os tradicionais botões Home, Menu, Back e Find, do Android, são áreas sensíveis ao toque muito estreitas, que obrigam o usuário a tocá-los com a unha, em vez do dedo. No verso, na parte superior há a lente da câmera de alta resolução, dois leds para o flash e o alto falante, pequeno e com som ruim.

O aparelho veio sem caixa, protegido por espuma de plástico, acompanhado por um carregador com entrada USB, um cabo USB micro-B que pode ser colocado num computador ou no carregador (boa ideia!), um fone de ouvido com microfone e botão para atendimento de chamadas, e um folheto, menor que bula de remédio, que é chamado de “manual”, com instruções básicas para uso do aparelho.

A falta de manual decente é um ponto negativo para quem nunca usou Android. Para quem quiser aprender, recomendo baixar o manual do Samsung Galaxy 5.

A tela do Wei Dream tem 240 x 400 pixels e é resistiva, em vez de capacitiva, tecnologia mais cara. Trocando em miúdos, significa que tenho de fazer pressão na tela para controlar o aparelho, em vez de apenas passar o dedo como nos modelos de marcas mais caras. Isto pode ser um pouco desconfortável, mas tem a vantagem de permitir o uso de um estilete ou lápis com borracha macia na ponta, o que não é possível com a tela capacitiva, que só funciona com a eletricidade da ponta dos dedos.

É uma tela maior que a do Samsung Galaxy 5, que mede 240 x 320 px. No entanto, seu brilho é menor do que o da tela coreana. Também é de plástico um pouco ondulado e flexível, enquanto que a do Galaxy parece de vidro e é perfeitamente plana.

Os fones de ouvido com botão de atendimento e microfone são vagabundinhos e não tem nem indicação de qual é o esquerdo ou o direito. São meio grandes para ouvidos ocidentais. Como  ponto positivo, há o fato de que o plug é TRS de 3,5 mm (chamado de P2 no Brasil). Ou seja: dá para usar qualquer fone de ouvido de boa qualidade.

A mesma entrada do fone de ouvido é usada para se “flashar” o Wei Dream — gravar uma ROM do aparelho em sua memória flash — com um cabo USB-serial. Mas isto é coisa para hackers ou assistência técnica. Não tente fazer em casa.

Wei

Wei é “alô” em chinês. O fabricante Wei é de Taiwan (o site estava registrado por Ching Wei Technology Ltd., antes de se mudar para os EUA e deixar o site vazio), e vem penetrando agressivamente no mercado brasileiro a partir do segundo semestre de 2011, através das lojas online MPWay e MPXShop, que inundaram sites acessados por brasileiros com maciças campanhas publicitárias.

A Wei tinha um site bonitinho mas sem muitas informações ou serviços. Dali não extraí muita coisa interessante.

No interior do aparelho há indicações como sendo modelo Y803 e o FCC ID A3LGTY803. Este FCC ID é falso. A3L identifica produtos da Samsung. Não há produto registrado por A3LGTY803 no banco de dados da FCC. Possivelmente, o aparelho não foi homologado pela Comissão.

Na verdade, o celular Y803 é fabricado pela Shenzhen Mingdu Technology Co., Ltd., da China continental, que o fornece em regime de OEM. Por estas especificações, parece que o modelo foi atualizado para o processador MT6573, erroneamente descrito como MTK6513.

A assistência técnica é fornecida no Brasil pela EZFIX. Se houver problemas, é só enviar por PAC para EZFIX, cx. postal 5311, CEP 89202-970, Joinville, SC. juntamente com todos os acessórios, o número do pedido na loja e uma descrição do defeito.

Hardware

O celular Wei Dream é baseado no MT6516, system-on-chip (SoC) “2.75G” da empresa chinesa MediaTek, uma das maiores empresas sem-fábrica (fabless) do mundo. Fabless são empresas que apenas projetam e comercializam dispositivos mas mandam fabricar em outros lugares.

System-on-chip é o seguinte: os fabricantes colocam, num único chip, todos os  dispositivos necessários para um computador. No site da empresa não há detalhes, mas um chip posterior, MT6573, replica algumas das características do MT6516. Os esquemáticos confidenciais deste chip vazaram para a internet (MT6516_Design_Notice_V1.0), de onde tirei este esquema ao lado.

[Atualização]: Achei também uma preciosidade maior ainda: a MT6516 data sheet, 1500 páginas e 15 MB confidenciais com TODAS as informações técnicas sobre a engenharia deste chip.

Basicamente, a MediaTek juntou numa só placa:

• Um processador ARM926EJ-S rev 5 (v5l) de 416 MHz (ARM9 Jazelle). Esta versão da família de processadores RISC ARM roda código Java de 8 bits diretamente pelo hardware, o que ajuda a aumentar a velocidade de execução desta linguagem infernalmente lenta.
• Um processador ARM7 de 104 MHz para o modem telefônico.
• Um receptor/transmissor para rede celular EDGE “2.75G” (2,75ª geração? Esses marqueteiros!).
• Receptor/transmissor Bluetooth e Wi-Fi.
• Um receptor de TV digital e analógica.
• Um receptor FM.
• Um receptor GPS.
• Um chip ASIC específico para manipular MP3, MP4, jpeg e imagens 2D e 3D, além de gerenciar a memória.
• Controladores de periféricos para fone de ouvido, cartão microSD, 2 chips telefônicos, alto-falante, tela QVGA (320×240), bateria inteligente, câmera fotográfica e de vídeo.

A MediaTek fornece este chip e um hardware de referência para diversos fabricantes de celulares, que inundam o mercado com modelos levemente diferentes. Lançado em 2009, a fabless esperava vender mais de 10 milhões de chips em um ano.

Muitas marcas shanzhai (apelidados de xing-ling no Brasil) usam este hardware, entre eles uma cópia do HTC chamada HD9. Existem outros modelos chamados de Star A1000, A3000, A5000.

Este é o capitalismo chinês: a Wei não tem fábrica e encomenda celulares da Mingdu, que encomenda componentes de outras empresas como a MediaTek, que não tem fábrica e encomenda componentes de outras empresas. Toda esta  linha de fornecedores pode ser consultada em sites business-to-business (B2B) como Made In China, Asia Trade e DIYtrade.

Hacking Wei Dream

Através do Android Development Kit (para Windowos e para Linux), com o cabo USB e a opção “Configuração > Aplicativos > Desenvolvimento > Depuração USB” ligada, eu  entrei no shell deste celular com o comando:

adb shell

No shell, com o comando Linux “cat /proc/cpuinfo” obtive o seguinte resultado:

cat /proc/cpuinfo
Processor       : ARM926EJ-S rev 5 (v5l)
BogoMIPS        : 207.66
Features        : swp half thumb fastmult edsp java
CPU implementer : 0x41
CPU architecture: 5TEJ
CPU variant     : 0x0
CPU part        : 0x926
CPU revision    : 5

Hardware        : MT6516 E1K
Revision        : 659e8b01
Serial          : 0000000000000000
$

O dado mais significativo é o BogoMIPS, uma medida genérica Linux da velocidade do processador. No Galaxy 5 de 600 MHz, o BogoMIPS reportado é de 599. Estranho que a MediaTek informe que a velocidade do ARM926EJ-S é de 416 MHz, quando seu BogoMIPS é de 207.66, a metade do especificado.

Abaixo, o resultado do AnTuTu Benchmark. Último lugar. Só para referência, o HTC Wildfire S tem processador de 600 MHz e chegou a 1000 pontos. O Wei Dream obteve 634. Talvez o BogoMIPS de 207.66 MHz não corresponda à frequência real do processador.

Benchmark do Android Wei Dream:

Outros resultados AnTuTu Benchmark:

Interessante que o aplicativo AnTuTu não teve acesso à frequência do processador, nesta tela.

A memória reportada pelo Linux, que acessei pelo comando “dmesg” no shell Android foi esta:

Memory: 124MB 63MB = 187MB total
Memory: 184312KB available (3688K code, 955K data, 144K init, 0K highmem)

Software

O Wei Dream vem com alguns softwares do Google instalados, como Gmail, Navegador, Locals, Maps e Android Market, e muitos outros podem ser baixados pelo Market.

Além do Navegador do Google, ele veio com um programa de GPS chinês medonho. Inicialmente não houve jeito de captar os satélites GPS, só localização por rede de telefonia e Wi-Fi, que dá precisão grosseira de uns 300 metros. Enviei para a EZFIX e eles consertaram a antena e instalaram um programa melhor, Sygic GPS.

Pelo comando “dmesg” do Android Linux shell, obtive os logs:

[    1.124420] GPS: mt3326_gps_power: Switching GPS device on
[    1.125177] GPS: mt3326_gps_power: ignore power control: 1
[    1.125896] GPS: mt3326_gps_probe: Registering chardev
[    1.126579] GPS: mt3326_gps_probe: major: 229, minor: 0
[    1.127787] GPS: mt3326_gps_probe: Done

Isto indica que o driver GPS foi carregado e deveria estar trabalhando. O Dalvik Debugger não mostra nenhuma mensagem de erro do GPS. Será alguma configuração errada?

Sem Skype e sem Flash

Talvez pela baixa velocidade do processador, o Skype avisou, na instalação, que é incompatível com o dispositivo. É chato ter câmera de vídeo-chamada e não poder usar.

O Adobe Flash for Mobile também não vai rodar (exige ARM11), mas isto não é problema porque nenhum celular mais vai rodar Flash: ele foi descontinuado e será substituído por HTML5.

Imagem e som

Os vídeos do YouTube rodaram bem. Já as câmeras têm imagens terríveis, sem foco e sem luz nos cantos, parecendo lomografias. No entanto, a câmera de trás faz fotos de 1024 x 768 pixels e filma em mpeg4 a 720 x 480 pixels, 18 quadros por segundo,  o que é uma boa surpresa.

O comando shell Android  “getprop”, que lista o banco de dados do dispositivo — análogo ao registro do Windows –, reportou compatibilidade com os seguintes formatos:

[ro.media.enc.hprof.file.format]: [3gp]
[ro.media.enc.hprof.codec.vid]: [m4v]
[ro.media.enc.hprof.vid.width]: [720]
[ro.media.enc.hprof.vid.height]: [480]
[ro.media.enc.hprof.vid.fps]: [30]
[ro.media.enc.hprof.vid.bps]: [3400000]
[ro.media.enc.hprof.codec.aud]: [amrnb]
[ro.media.enc.hprof.aud.bps]: [12200]
[ro.media.enc.hprof.aud.ch]: [1]
[ro.media.enc.hprof.aud.hz]: [8000]
[ro.media.enc.mprof.file.format]: [3gp]
[ro.media.enc.mprof.codec.vid]: [m4v]
[ro.media.enc.mprof.vid.width]: [352]
[ro.media.enc.mprof.vid.height]: [288]
[ro.media.enc.mprof.vid.fps]: [30]
[ro.media.enc.mprof.vid.bps]: [990000]
[ro.media.enc.mprof.codec.aud]: [amrnb]
[ro.media.enc.mprof.aud.bps]: [12200]
[ro.media.enc.mprof.aud.ch]: [1]
[ro.media.enc.mprof.aud.hz]: [8000]
[ro.media.enc.lprof.file.format]: [3gp]
[ro.media.enc.lprof.codec.vid]: [h263]
[ro.media.enc.lprof.vid.width]: [176]
[ro.media.enc.lprof.vid.height]: [144]
[ro.media.enc.lprof.vid.fps]: [30]
[ro.media.enc.lprof.vid.bps]: [384000]
[ro.media.enc.lprof.codec.aud]: [amrnb]
[ro.media.enc.lprof.aud.bps]: [12200]
[ro.media.enc.lprof.aud.ch]: [1]
[ro.media.enc.lprof.aud.hz]: [8000]
[ro.kernel.touchpanel.type]: [capacitive]

Hprof, mprof e lprof imagino que sejam os perfis multimídia de qualidade alta, média e baixa, respectivamente. Então, os formatos de encodificação suportados pelo hardware seriam:

• Alta qualidade: vídeo container 3gp, codec mpeg4, imagem com dimensões de 720×480 pixels, 30 quadros por segundo, banda máxima de 3400 bps, áudio formato AMR-NB, 8 KHz, 12,2 bps, um canal.
• Média qualidade: vídeo container 3gp, codec mpeg4, imagem com dimensões de 352×288 pixels (CIF), 30 quadros por segundo, banda máxima de 990 bps, áudio formato AMR-NB, 8 KHz, 12,2 bps, um canal.
• Baixa qualidade: vídeo container 3gp, codec h263, imagem com dimensões de 176×144 pixels (QCIF), 30 quadros por segundo, banda máxima de 384 bps, áudio formato AMR-NB, 8 KHz, 12,2 bps, um canal.

Não sei o quanto se pode confiar nestas informações, porque a chave “ro.kernel.touchpanel.type” diz que a tela é capacitiva quando ela é resistiva. Que outras chaves estarão incorretas?

Como se pode ver pelas especificações, o áudio é da pior qualidade possível — AMNR-NB é codec para voz, tem um som de lata. E a baixa sensibilidade do microfone não ajuda em nada.

O alto-falante externo é pequeno e tem som muito baixo e de péssima qualidade.

O gravador de áudio default grava com um volume terrivelmente baixo, e em formato AAC. Além disto, guarda as gravações na raiz do microSD, em vez de colocar numa pasta própria. Programador relapso!

O único programa que gravou razoavelmente bem foi o VirtualRecorder com a pré-amplificação no máximo ou “Enable booster” ligado. Depois, é preciso converter para os arquivos gerados em formato PCM para MP3 através do programa FreeMP3Droid.

Mas o vídeo em média resolução — 720 x 480 pixels — é até razoável para um dispositivo desta classe, embora eu só obtivesse 18 quadros por segundo e 2200 bps, em média, e não os 30 fps e 3400 bps registrados.

Media player

Como media player o Wei Dream funciona legal: roda mp3 e mpeg4! Ideal para uma viagem longa ouvindo música ou assistindo a vídeos.

Ao converter vídeos para carregar no Wei Dream, obtive sucesso com o programa livre WinFF (para Linux e Windows, um front end para o ffmpeg) e com os  seguintes parâmetros colocados num perfil que criei, “Mobile Phone > Wei Dream wide”:

-r 15 -vcodec mpeg4 -vtag mp4v -s 400x240 -aspect 5:3 -acodec libvo_aacenc -ar 22050 -sample_fmt s16 -ab 128k -ac 2

Para manter a proporção da TV standard, fiz um outro perfil com “-s 320×240 -aspect 4:3”.

O formato do arquivo conteiner deve ser “3gp”. Posso baixar dezenas de vídeos do YouTube pelo Miro e depois converter tudo em batelada.

Um minuto de vídeo gravado da TV a 720×480 pixels, 30 fps, 2000 bps, que ocupa 13 MB, fica com 2,5 MB depois de convertido.

Leitura de códigos QR

Vale reportar que o único leitor de QR Code que funcionou com a câmera foi o Leitor Vivo, da operadora de telefonia Vivo, aplicativo OEM da ScanLife. O original também funciona. Isto é bom, pois um leitor de QR Code é importante para usuários de mobile evitarem a chatíssima digitação de URLs.

No entanto, este aplicativo tem uma estranha incompatibilidade com o excelente pega-ladrão Prey. O leitor praticamente trava o Wei Dream de tal forma que é necessário ressetar o aparelho. “Reset” é como a MediaTek chama tirar a pilha.

TV e rádio

A televisão teve uma boa recepção, graças à antena telescópica embutida, mesmo na área de sinal fraco em que moro. Durante a recepção de TV, pode-se tirar screenshots da tela em formato jpeg 320 x 240 pixels ou gravar o vídeo em formato de média qualidade, razoável para mandar ao YouTube. Um ponto a favor do chip MT6516.

O rádio também tem uma boa recepção em função da antena telescópica e não precisa de fone de ouvido para sintonizar, diferentemente de alguns celulares que usam os fios do fone como antena. Outro ponto positivo. Mas, a lista de estações preferidas é pequena: cabem apenas 5 rádios.

No entanto, qualquer atividade multimídia fica com áudio “picotado” se o Wei Dream tiver que fazer outra tarefa, como atualizar algo pela rede.

Jogos

Bom… dá pra jogar Angry Birds, não se preocupe. Meio travadinho, sem som, sem a engraçadíssima gritaria dos passarinhos, mas roda. Estranho são os artifacs que aparecem nas telas (imagem ao lado) nas bordas das lajotas bitmap que formam as telas do jogo. Suponho que sejam erros do chip processador de jpeg, mas estou “chutando”.

Compare com uma imagem do Samsung Galaxy 5.

Já joguinhos 3D, sem chance. O MT6516 não tem fôlego para isto.

Baterias

Como em qualquer Android — aliás, qualquer smartphone com sistema tipo Unix –, as baterias de 1200 mAh duram pouco, talvez 3 h de uso intensivo como assistindo vídeos e navegando na internet.

Para abrir a tampa do Wei Dream, deve-se colocar a unha na ranhura, encostar o pulso no aparelho e fazer um movimento como quem acelera uma moto, com cuidado.

As baterias ficam por cima dos cartões SIM, e estes ficam por cima do cartão microSD, o que impede o hot swap (como se alguém fosse doido de fazer hot swap numa partição Linux montada). É preciso cuidado para abrir a cobertura do SIM1. É necessário se deslizar a cobertura metálica uns milímetros para trás, para liberar a trava e acessar o microSD. Atenção: o cartão SIM1 fica encaixado nesta tampinha e move-se com ela. O cartão SD fica embaixo do SIM1 e também é travado com uma pequena aba que deve ser afastada para librá-lo. O desenho que explica isto está de cabeça para baixo.

Custo

Fico impressionado com o marketing industrial da cultura Shanzhai chinesa. Este aparelho custou R$ 199,99. São 113 dólares, pelo câmbio de setembro de 2011. Desconte uns 4 dólares pela memória de 2GB, menos uns 13 dólares pelo frete, e temos um aparelho que pode ter custado 96 dólares. A margem de lucros deve ser mínima, pois na época do lançamento da plataforma MT6516, em 2009-2010, o custo estimado desta classe de dispositivos era de 100 a 105 dólares. A faixa de 95 a 100 dólares era da uma classe imediatamente inferior, de aparelhos sem Android.

Imagino que esta classe tenha baixado de preço em função do novo chip MT6573, que roda a 650 MHz e tem 3G.

O lado negativo do preço baixo é que os fabricantes economizam em tudo: falta suporte, manual, assistência técnica. Se o aparelho estragar, é o fim!

Se eu fosse consultor dos chineses, recomendaria abrirem as especificações e criarem comunidades de fãs para melhorarem os aparelhos de graça.

Conclusões

O celular Wei Dream é bom? (frase para ficar bem colocado no Google). Depende do que se quer fazer com ele e de quanto dinheiro pretende-se gastar.

Apesar do baixo desempenho, o Wei Dream tem um ótimo custo/benefício. É o Android mais barato do mundo. Vale a pena para quem quer entrar no mundo Android e não é exigente em relação a recursos multimídia ou de jogos. Para comunicação e internet, o dispositivo cumpre bem a função, assim como para quem quer aproveitar as melhores ofertas de duas operadoras diferentes ao mesmo tempo.

E — ora bolas! — é um Android! Super hackeável! Quero ver alguém fazer com o iPhone o que se pode fazer com um Android.

Quem pretende começar a desenvolver aplicativos para esta plataforma, é bom começar com um mínimo denominador comum, um dispositivo de baixo desempenho. E barato, para o caso de transformar o celular num tijolo, numa aventura de flashing mal sucedida.

Pontos positivos

• É Android.
• É Android atualizado, versão 2.2.1 “Froyo”.
• Tem preço baixo: 113 dólares por um Android com cartão de 2MB é uma barganha.
• Suporta dois chips simultâneos.
• Tem duas câmeras.
• Grava vídeos em resolução 720×480 pixels.
• O software de fotos tem recursos para fotos panorâmicas, reconhecimento de rostos e sorrisos.
• Capta boa imagem da TV analógica, padrão que vai funcionar no Brasil até 2016. Até lá, este celular estará obsoleto.
• Possui carregador com entrada USB. O mesmo cabo MicroUSB carrega pela tomada ou pelo computador.
• Tem timer para desligar e ligar o aparelho automaticamente. À noite, por exemplo.
• O fone tem plug P2 de 3,5 mm.
• Tem assistência técnica no Brasil (EZFIX Assistência Técnica, cx. postal 5311, CEP 89202-970, Joinville, SC.)

Pontos negativos

• Fabricante não dá suporte para ROMs e atualizações (como grandes fabricantes também não dão). Não achei nada no site da Wei.
• Tem velocidade de clock baixa (207,66 MHz? 416 MHz?).
• Não rodou Skype, que diz que o dispositivo é incompatível ou dá erro na partida.
• Não roda Flash.
• As fotos e vídeos são de baixa qualidade.
• Tem baixíssimo desempenho 3D.
• Tem baixa qualidade de áudio gravado.
• A antena do GPS tende a apresentar problemas, não captando nenhum satélite, apenas pontos Wi-Fi e de telefonia. Neste caso, envie à assistência técnica, que resolve o problema.

Referências

• MediaTek to ship 10 million MT6516 smartphone solutions in December and January, says paper
• Android on a Dual-SIM Smartphone
• Android phone R&D underscores features-rich units
• MediaTek MT6516 RISC Microprocessor
• Explore Linux /proc File System
• Chines clones MTK6516

Saiba mais

• Celulares Android