Fita do Serra: aqui está o vídeo “quase original”

O vídeo da fita do José Serra mais próximo do original que eu achei na rede foi este: Vídeo mostra reação de Serra após ser atingido na cabeça. A data de 21 de outubro de 2010 é a mesma da matéria de 7 minutos do Jornal Nacional que envergonhou os próprios jornalistas da Globo e pode fazer rolar a cabeça de Ali Kamel.

O nome original do vídeo no site de O Globo é este:

http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2010/video/2010/20624/PETISTAS AGRIDEM JOSÉ SERRA.FLV

E o cabeçalho HTTP é este, capturado pelos complementos DownloadHelper e HTTP Resouce Test, do navegador Firefox:

HTTP/1.1 200 OK
Cache-Control: max-age=86400
Content-Type: video/x-flv
Last-Modified: Thu, 21 Oct 2010 22:29:55 GMT
Etag: "80f33e7c6f71cb1:2fa5"
X-SRV: NF165
Content-Length: 4613713
X-Bip: 627871909 34 21
Date: Sat, 30 Oct 2010 16:50:29 GMT
X-Varnish: 627871909
Age: 0
Via: 1.1 varnish
Connection: keep-alive
X-Cache: MISS

O cabeçalho mostra que este vídeo foi postado às 22h29min de quinta-feira, 21 de outubro de 2010, dia em que o Jornal Nacional mostrou o suposto rolo de fita.

O vídeo veiculado pela Folha.com (e apontado erroneamente pelo perito Ricardo Molina como o que ele teria analisado) está no servidor de mídia do grupo Folha, e foi postado na às 20h23min de quarta-feira, 20 de outubro de 2010, logo após a matéria do telejornal SBT Brasil mostrando a bolinha. O cabeçalho HTTP do vídeo editado da Folha é este:

HTTP/1.1 200 OK
Date: Tue, 02 Nov 2010 19:02:17 GMT
Server: Apache
Last-Modified: Wed, 20 Oct 2010 20:23:52 GMT
Etag: "40878511-4d8d5e-493123011a600"
Accept-Ranges: bytes
Content-Length: 5082462
Content-Type: application/octet-stream
X-Cache: MISS from videos.uol.com.br
X-Cache-Lookup: MISS from videos.uol.com.br:3128
Cache-Control: max-age=86400

Tenho razões para acreditar que o vídeo na Globo é mais próximo do vídeo original captado pelo repórter da Folha Italo Nogueira, embora a página de O Globo diga que é um vídeo do You Tube. Procurei este vídeo pelo You Tube e não achei. E o segundo perito da Globo disse que a empresa recebeu o vídeo do grupo Folha. Por que a Globo informou de que era do You Tube? Estranho…

Mas é um vídeo com dimensões de 320 x 240 pixels, mesmas dimensões captadas pelo celular Nokia E71 do repórter da Folha.com, conforme o blogueiro Roberto Takata apurou.

No entanto, o arquivo do vídeo “original” — entre aspas porque não existe o conceito de original em mídias digitais — recebido pelo segundo perito teria o tamanho de 4,19 megabytes (MB), formato mpeg 4 (mp4) e 15 quadros por segundo (segundo o timecode do perito e meus cálculos), e este “do You Tube” — da Globo — tem 4.613.713 bytes, ou 4,4 MB, formato Flash Video (flv) e 25 quadros por segundo. O primeiro tem duração de 1’17” e o segundo, 1’16”. É razoável supor que foi, portanto, renderizado (processado) e recomprimido antes de ser colocado em linha na rede, em função das diferentes taxas de quadros por segundo.

Apesar de provavelmente reprocessado, ele pode nos ajudar a entender o famoso “rolo da fita” do candidato José Serra. Como manteve, aparentemente, as mesmas dimensões do vídeo original, a renderização não criou novos quadrados de 8 pixels típicos dos algoritmos — fórmulas — de compressão mpeg.  A compressão manteve os tamanhos dos quadrados originais, de 8 pixels, só comprimiu um pouco mais a informação dentro de cada  quadrado, exagerando os artifacts.

Com o programa Linux Avidemux, gerei alguns quadros em formato BMP e converti para PNG, sem perdas. Depois, reamostrei em 400% (ampliei) sem aplicar nenhum algoritmo de interpolação para a imagem não ficar suavizada. O resultado do quadro anterior e do próprio quadro do suposto rolo de fita estão na galeria abaixo.

Mas o site do curso de treinamento de jornalistas da Folha de São Paulo, Novo em Folha, ainda está tratando este vídeo como furo de reportagem, em vez da maior “barriga” jornalística (gafe) dos últimos anos. Ali Kamel ficou numa situação muito ruim dentro das Organizações Globo.

Isto mostra como cursinhos de treinamento de focas amestradas não substituem a boa e velha formação crítica acadêmica em Jornalismo.

Leia também

• A batalha de Campo Grande. Revista Outras Palavras.