Categories: Jornalismo Online

A impostura do impostômetro

Falha: José Serra no Impostômetro pifado. Foto Futura Press publicada no Último Segundo, 30 ago. 2010.

Volta e meia, a cada número redondo que atinge, o impostômetro dos empresários paulistanos aparece nos noticiários. Impostômetro pra cá, impostômetro pra lá, o impostômetro é notícia em todos os noticiários da TV, rádio ou internet. Invariavelmente, vem junto a ladainha sobre alta carga tributária, gastos públicos, desperdício do dinheiro público.

Contraditório? Contextualizações? Comparações? Podem esquecer! A imprensona conservadora no Brasil não usa mais estas práticas obsoletas do jornalismo, conforme foi apregoado no fórum do Instituto Millenium de 2010. “Grande imprensa” agora é partido político, sugere Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ). É mais fácil divulgar informações falsas, como “o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo”, do que fazer um site útil e decente como Where Does My Money Go ou o brasileiro Para Onde Foi o Meu Dinheiro?

O jornalista editor de TV Marco Aurélio Mello já desmascarou a parcialidade com uma história de redação que mostra a falta de metodologia do impostômetro e mostrou como a imprensona manipula informação.

Aqui, contextualizo os números do impostômetro. Já que William Homer e Joelmir Beting não fazem o trabalho deles, eu faço. Aí abaixo está a comparação de arrecadação per capita em dezenas de países no mundo, com dados de 2009.

Posição em ranking não significa nada, mas os noticiários adoram. Então, tome: existem 20 países com carga tributária mais alta que o Brasil, e o país ocupa a longínqua 49ª posição em arrecadação. E repare como a maioria dos países desenvolvidos têm altas cargas tributárias. Tem que ser assim mesmo. Civilização tem seu preço.

[Atualização: em 2012 o Brasil caiu para 33ª posição no ranking da carga tributária!]

Quando se argumenta com conservadores que a Dinamarca tem 50% de carga tributária, comparada com os 38% do Brasil, a resposta vem pronta: “Mas olhe a qualidade dos serviços públicos na Dinamarca!”.

Não conheço nenhuma pesquisa que compare qualidade de serviços públicos no mundo. Na Educação, em Os países mais burraldos do mundo, já demonstrei que o Brasil está exatamente na posição que deveria estar, pelo que gasta em Educação. E qualidade custa dinheiro. Por acaso querem serviço dinamarquês de 18 mil dólares per capita por apenas 4 mil dólares per capita? O empresário brasileiro é bom no que faz, mas jamais conseguiria este milagre de produtividade…

Queremos serviços de nível europeu? Teremos, quando tivermos PIB europeu.

Veja a planilha de carga tributária mundial completa. As fontes dos dados são insuspeitas: CIA e The Heritage Foundation. Mais “conservadoras”, impossível.

Veja o mapa dos impostos. Quanto mais verdinho o país, mais verdinhas arrecada, em porcentagem do PIB. Veja como impostos altos estão ligados a países desenvolvidos, em geral (Passe o mouse por cima dos países).
E aqui, a arrecadação per capita em dólares, equalizada pelo poder de compra.

Finalmente, a riqueza das nações: a renda per capita, em dólares, equalizada pelo poder de compra:

Leia mais sobre a impostura do impostômetro.

E sobre o impostômetro e os impostores.

Leia mais sobre Ética concorrencial.

E conheça o Sonegômetro!

José Antonio Meira da Rocha

Jornalista, professor das áreas de Editoração e de Mídias Digitais na Universidade Federal de Santa Maria, campus cidade de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil. Doutor em Design pelo Programa de Pós-Graduação em Design (PGDesign)/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, 2023. Mestre em Mídias pela UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2003. Especialista em Informática na Educação, Unisinos, 1976.

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José Antonio Meira da Rocha

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