O homem que falava timorês

Na verdade, não existe timorês. Os habitantes do Timor-Leste, um dos mais novos países da Terra, falam cerca de 16 línguas diferentes e alguns dialetos (veja contribuição de Ken Westmoreland abaixo deste artigo). Além da língua-mãe, os timorenses do leste falam a língua franca Tétum; uns 25% também falam o português, língua oficial junto com Tétum, resultado de 400 anos de colonização, e quase todos os jovens falam a língua indonésia, resultado de 25 anos de brutal dominação. A luta de libertação foi falada em lusitano, mas a geração que cresceu de 1975 a 1999 fala indonésio. Depois da invasão, o ditador sanguinário Suharto mandou 11 mil professores para a região para completar a dominação, agora de forma cultural.

Mesmo o Tétum não é a língua mais falada, mas foi adotada na liturgia pela igreja católica, já que o português havia sido proibido pela ditadura militar indonésia. Assim, transformou-se em língua franca, principalmente o tetum-prasa (tétum-praça), dialeto falado na capital Díli com tantas palavras em português que é quase um crioulo.

Bandeira do Timor-lesteComo me interesso pela comunidade lusófona, passei a acompanhar mais de perto a situação do Timor-Leste depois de um embroglio que resultou no presidente Ramos-Horta baleado, dois militares rebeldes mortos e um segurança presidencial seriamente ferido. Para entender melhor a situação, às vezes expressa em tétum, baixei um dicionário Tétum-Português-Indonésio em formato PDF, compilado por Ken Westmoreland.

Mas consultar um dicionário de papel é chato, mesmo em PDF. Melhor seria usar um programa como o Babylon Translator, um dos poucos programas comerciais que valem a pena ser comprados. Ainda mais agora, com o dólar “derretendo” no Brasil. O Babylon Translator traduz rapidamente uma palavra quando você control-clica em cima dela. Isso funciona mesmo em palavras em imagens, porque o programa faz um OCR (reconhecimento de caracteres) antes de traduzir. Também fornece a pronúncia robotizada de palavras em inglês.

Dica: se você tiver cartão de crédito internacional, no Brasil compre em dólar, não em real, que deixa o produto mais caro. Pra mim, com a Brittanica resumida, saiu por 71 dólares. Mas você também pode baixar o Babylon para testes durante 30 dias.

Baixado o Babylon Translator, me dediquei a construir um dicionário tétum para ele, o que exigiu pesado processamento de texto. Transformei o PDF em texto. Editei o texto no BROffice e no Notepad++ inserindo tabulações entre as palavras tétum, portuguesas e indonésias. Também inseri o gênero feminino nas palavras de origem portuguesa do tétum, além de mudar a ordem das designações de classes das palavras. Tudo isto graças ao recurso de procura-e-troca com expressões regulares, um recurso informático meio complicado mas poderosíssimo.

Preparado o texto, gravei como “texto-separado-por-tabulação” e importei numa planilha eletrônica do BROffice, que gravei como formato MS Excel. Aí, pude criar o dicionário com o Babylon Builder, programa gratuito distribuído pela empresa para que os usuários criem vocabulários e dicionários.

Para colocar uma cereja no bolo, criei com o IrfanView um ícone com a bandeira do Timor-Leste a partir da bandeira do país na Wikipedia e usei no Builder.

Se você precisar urgentemente de um dicionário Tétum-Português-Indonésio para o Babylon Translator, baixe aqui. E se você quiser ajudar colocando mais palavras neste dicionário, use a versão Google Planilha que coloquei na rede. Basta pedir permissão para editar. O copyright do dicionário é do jornalista britânico Ken Westmoreland (sob o pseudônimo Buka Hatene, que significa “aprender”, em tétum).

(O título deste post é uma citação ao conto “O Homem que falava Javanês“, do escritor brasileiro mestiço Lima Barreto).

About José Antonio Meira da Rocha

Jornalista, professor das áreas de Editoração e de Mídias Digitais na Universidade Federal de Santa Maria, campus cidade de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil. Doutor em Design pelo Programa de Pós-Graduação em Design (PGDesign)/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, 2023. Mestre em Mídias pela UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2003. Especialista em Informática na Educação, Unisinos, 1976.