Quando o ourives Johannes de Gutemberg teve a ideia de cortar uma xilogravura em pedacinhos e reutilizar as letrinhas numa prensa de uva, não deve ter imaginado o tsunami que provocaria na cultura ocidental. Mas ele sabia que era uma boa ideia e que deveria dar um bom dinheiro.
Naquela época, 1440, fim da idade média, um livro escrito à mão tinha preço inimaginável. Praticamente apenas reis iletrados e a igreja podiam ter livros. Com a invenção e com as melhorias do seu auxiliar, calígrafo Peter Schöffer (pouco citado coautor da imprensa), Gutemberg esperava ser bem monetizado. Para conseguir isso, associou-se ao banqueiro Johannes Füst, e tomou emprestado 800 ducados (equivalente a mais de mil dólares, segundo documentário no History Channel), depois mais 800, para criar uma empresa.
O negocinho tinha inovação, tinha empreendedorismo, tinha pesquisa e desenvolvimento, objetivava lucro e precisava de investimento para funcionar. Até nome, o empreendimento tinha: Das Werk der Bücher, A Fábrica de Livros. O primeiro objeto feito em série no mundo era um produto cultural! E, claro, a primeira fábrica se ralou nas mãos da banca: o véio Gut não conseguiu pagar os empréstimos e Füst tomou as oficinas. Tomou também o auxiliar, pois Schöffer se bandeou pros lados do usurário (empregado é sempre ingrato!). BTW, mais tarde, Füst tentou vender ao rei da França um livro impresso como se fosse escrito à mão, maior estelionato. Foi descoberto, foi preso, fugiu. Banca é banca em qualquer época.
Porque dava muita grana, a imprensa se espalhou pela Europa em apenas dez anos, e pelo mundo logo em seguida. Muito mais rápido do que os computadores se espalharam hoje, tomadas as devidas proporções.
Mas livro impresso ainda era caro: custava o salário de três anos de um artesão. O papel era feito de trapos. Um quilo de trapo custava o mesmo que um quilo de alumínio, hoje (History Channel, 2007). Só depois da invenção de papel de madeira foi que a publicação em grande escala ficou barata e pode deslanchar.
O pecado católico do lucro já tinha sido arrasado pela Reforma, não tinha mais jeito. Surgiram os panfletos opinativos e noticiosos. Com o sucesso dessas publicações, as pessoas viram que também podiam ganhar dinheiro vendendo papel com tinta, como os editores de livros. Viram também que podiam se monetizar mais um pouquinho colocando anúncios na publicação. Surgiu o jornalismo impresso moderno (esse que está em decadência).
Qualquer semelhança com blogs não é mera coincidência.
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Peter Burke: Uma História Social da Mídia, de Gutemberg à Internet. O melhor material sobre, ever!
Grande abraço e parabéns pelo excelente texto!
Hehe!
Valeu, Fernando! Abração!
Gostei do texto. Repleto de bom humor, porém de conteúdo importante.
Parabéns!