Por que não se deve usar a fonte AvantGarde

Você se lembra do filme “Quanto mais idiota, melhor“, quando Wayne vai tocar guitarra numa loja e o vendedeor aponta um cartaz dizendo “É proibido tocar Stairway to Heaven”?

Pois quando você for usar a fonte tipográfica AvantGarde, lembre-se que estará fazendo como Wayne.

Esta fonte é muito bonita, muito bem desenhada (criação de Herb Lubalin, grande tipógrafo e editor de arte). Mas está embutida em todas as impressoras PostScript desde 1986 e é a única fonte decorativa “de uso geral” no conjunto básico destas impressoras. Então, todo o mundo usa. Além disso, costuma ficar no alto das listas de fontes, nos programas de editoração, o que facilita sua escolha por quem está com preguiça de escolher uma das mil fontes do Corel Draw. Sempre que alguém quis usar uma fonte “bonitinha”, usou AvantGarde. Pois bem: CHEGA! Não aguento mais AvantGarde em qualquer folheto ou cartazinho de firma. Ela está sobreutilizada! Over! É bonitinha mas ordinária.

“Ai, mas eu acho tão bonitinha…”

Segundo o tipógrafo Tony DiSpigna, parceiro de Lubalin, a primeira vez que a fonte foi usada, na logotipia da revista Avant Garde (1968), foi uma das pouca vezes em que ela foi usada bem. Ed Benguiat, outro monstro da tipografia e amigo de Lubalin, já disse: “o único lugar em que a fonte AvantGarde fica bem é nas palavras Avant Garde. Todo o mundo arruína ela“.

Entre os arruinadores, estão a Rede Globo, que desde os anos 70 usa AvantGarde em logotipos. Como o do Jornal da Globo, por exemplo, ou da própria empresa.

Para mim, o grande problema dela (além de ter um temperamento muito duro, seco) é que as minúsculas todas são muito parecidas, todas redondinhas, desenhados com compasso. Isso faz a leitura ficar muito prejudicada, pois os olhos não conseguem diferenciar muito uma letra da outra. Isso diminui a velocidade de leitura e torna o prazer de ler, um suplício.

Se você leu sem problemas estes dois parágrafos, então você não tem AvantGarde instalada em seu micro. Parabéns.

Lembre-se, então: daqui para a frente, use qualquer coisa, menos AvantGarde (ou Avalon, como a Corel chamava sua versão, ou AvantGarde Bk BT, como a Bitstream chama a sua). Use, até mesmo, a Futura, mas não use AvantGarde.

Saiba mais sobre a história desta fonte no seguinte link: Caro Fred, e todos os que querem usar AvantGarde.

E saiba também por que banir a Comic Sans.

José Antonio Meira da Rocha

Jornalista, professor das áreas de Editoração e de Mídias Digitais na Universidade Federal de Santa Maria, campus cidade de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil. Doutor em Design pelo Programa de Pós-Graduação em Design (PGDesign)/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, 2023. Mestre em Mídias pela UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2003. Especialista em Informática na Educação, Unisinos, 1976.

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  • encontrei sua pagina por acaso e amei, excelente didática, sou arte-finalista a mais de 20 anos e dois não só os olhos e o coração quando vejo inumeras artes que ficariam tão melhor com outras fontes mas o povo ainda insiste em usar, arial, avantgarde, comic sans(da até urticaria quando essa aparece...rs) o pior de tudo é quando deformam, estica, comprime, aperta, distorce, um horror......kkkkk
    Parabéns pelo texto, ganho um fã e um seguidor. abraço....

  • Eu gosto da Avantgarde. Não é pq ela é uma fonte antiga e tudo mais que foi dito, que eu não deveria utiliza-lá.

      • Argumentos rasos? O parceiro do tipógrafo criador diz que não se deve usar! A fonte não tem legibilidade! O que mais poderia ser argumentado? "Eu gosto dela"?

  • Obrigado pelo texto. Acabaram de sugerir que eu utilize esta fonte em um de meus trabalhos. Sabia que não deveria fazer isso, mas o texto deu um upgrade na minha defesa. Um abraço.

  • Caro Meira - admiro muito seus dados técnicos, e você tem uma didática fantástica. Mas gostaria de incluira Arial na listas das fontes que deveriam ser banidas. Todos usam Arial para impressos e multiploso usos mais, mas ela só fica bem em páginas da internet e olha lá! Faça um teste - aumente a letra "R" normal maiúscula em Helvética, Helios, Universe ou Switzerland e compare com a versão em Arial. Isso é só um exemplo. Ela contém muitas outras falhas técnicas na sua geometria, que também atrapalha quem quer uma plotagem (recorte de vinil)perfeita.

    • Hehe! Concordo com você. Arial é tosca.
      E com as Liberation fonts, qual sua experiência? Se experimentar com plotter, mande suas impressões...
      Abraços!

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