Compilação por prof. MS. José Carlos Hofmeister
Pelo Conceito técnico (até início da década de 90, diagramar é criar e executar, segundo as linhas fundamentais do planejamento gráfico e de acordo com critérios jornalísticos e artístico-visuais, a distribuição gráfica das matérias a serem publicadas em veículo impresso e prepará-las para as oficinas.
A diagramação é uma arquitetura de formas. É uma arte artesanal cujo resultado(..)nos dará a mensagem da comunicação visual, qualitativamente distinta da mensagem específica de cada componente da mesma página. É a comunicação linear consagrando o dinamismo pela associação de imagens. |
Clara Conti |
De forma geral, diagramar consistia em:
Hoje, diagramador e editor devem se reunir para desenhar a página antes de qualquer matéria ser escrita. Com a técnica de pré-diagramação, o editor sabe exatamente quantos caracteres escrever e as proporções das fotos ou desenhos.
* MATTOS, Manoel José de. Percepção e diagramação criadora. In: Comum, Rio de Janeiro, julho/setembro de 1978, v.1, nº3, p.6
Diagramação é a consciência dos elementos gráficos com a estética, o liame (ligação) entre a técnica do jornal e a arte de apresentação. Em outra palavras, a diagramação busca dar o padrão de representação gráfica, ligando harmonia e técnica.
Juarez Bahia
“Muito nova,(…) é a diagramação no Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial, um novo padrão de gosto circulou aqui nas revistas que relatavam o esforço de guerra, impressas em português nos Estados Unidos. O prestígio das técnicas de diagramação data desse tempo; em particular, de 1941, quando o argentino Guevara veio ao Brasil para trabalhar no jornal Meio Dia. Antes disso, os secretários de jornal costumavam entregar à oficina um boneco (ou boneca), espelho falso desenhado em uma lauda com oito dobras ou traços verticais, querendo marcar as colunas. Ali figuravam os títulos principais, mas não havia possibilidade de cálculo gráfico e a unidade da página se prejudicava. Toda vez que se impunha obedecer ao boneco, eram inevitáveis os cortes com remissão a outras páginas. A escolha de tipos cabia ainda em geral à oficina, de vez que não vigoravam padrões de uniformidade tipográfica.”O boneco é, de certa forma, uma técnica pré-industrial que fica entre a antiga paginação (presa à tradição de raízes medievais, atulhada de regras mais ou menos arbitrárias e repetidas sempre, com zelo, sem críticas, pelo artífice-paginador das ramas), e o moderno planejamento visual, que leva em conta os elementos estéticos e semânticos do discurso gráfico, com aberturas para a inovação e a definição orgânica de estilos. De resto, na antiga oficina em que se paginava pelo método tradicional, a própria estrutura industrial impediria a fabricação de produto diferente: a qualidade da empresa se media pelo tamanho do catálogo de tipos, fios e enfeites. Apesar das linotipos, serras e calandras, predomina um espírito artesanal que continuava a própria aventura boêmia do jornalismo.
“A diagramação dos argentinos também não representou um passo definitivo. Ainda na década de 50, predominava uma ditadura que propunha um duvidoso conceito do “belo” sobre a conveniência funcional do veículo. Caso muito comum era desenhar o diagrama da primeira página na antevéspera para dar tempo à desaparelhada oficina de realizá-lo, assim transferindo ao talento do secretário a incumbência de colocar na grande manchete ou no pequeno título as matérias do dia, houvesse ou não matérias que merecessem tanto ou tão pouco destaque.
“Na mesma época de 50, as técnicas de diagramação avançaram pouco a pouco, sobretudo nas revistas ilustradas, com o lançamento de Manchete e as formas gráficas de O Cruzeiro. Mas o episódio marcante foi, sem dúvida, a renovação do Jornal do Brasil, inspirada em modelos formais da arte concretista e com certa preocupação funcional que não esqueceu os novos estilos de redação, a valorização das fotografias e o aprimoramento do cálculo gráfico, de modo a eliminar cortes e espacejamentos. A maioria dos jornais brasileiros adotou a diagramação a partir dos êxitos alcançados, em prestígio e eleitores “de qualidade”, pelo Jornal do Brasil.
“A grande invenção do Jornal do Brasil foi despojar o espaço do jornal de elementos estéticos irracionais, que apenas acrescentavam ruído à informação léxica. Os postulados dessa diagramação, no entanto, com as limitações mesmas da escola artística que a gerou, aproximam-se em demasia de uma camisa-de-força atando a criatividade. Observe-se que o Jornal do Brasil, tanto o que foi planejado por Amilcar de Castro, quanto o que se faria posteriormente, com contribuições de Reinaldo Jardim, Alberto Dines e outros, incorpora muitos dois princípios defendidos por Jack Z.Sissors, professor de Jornalismo da North-Western University, em artigo no The Bulletin. Ora, esses princípios derivam servilmente da arte grega e nada há que os torne imperiosos. Na realidade, tanto do ponto de vista artístico quanto de uma perspectiva mais própria da comunicação, pouco importa se consideramos o estilo de O Dia, de O Globo, do Jornal do Brasil, do Jornal da Tarde ou dos tablóides sulinos como Zero Hora; sempre há que se fazer bem feito o trabalho. (…)”
Obs. A possibilidade do cálculo gráfico — o pré-estabelecimento do tamanho que os textos ocuparão na página — só se configurou após a adoção generalizada das LAUDAS.
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Obrigada pelo material sobre diagramação. Sou acadêmica do primeiro ano de Artes Visuais (FURG, Rio Grande,RS) e vou apresentar seminário sobre "Artes Plásticas e Desenho Gráfico:Amilcar de Castro e Joseph Beuys". Será muito útil. Jusseli
José Antônio, você poderia me indicar textos que trabalhem a perspectiva de leitura crítica de jornais a partir da arquitetura gráfica?
Confesso que a pergunta pode estar errada, posso não saber, na realidade, focar meu interesse. Mas, a idéia é pensar que - respeitada as regras definidas para uma edição - há um campo, mínimo que seja, em que o diagramador pode escolher determinados elementos. Existe um momento anterior (que é do próprio sujeito, percepção, preconcepções, predefinições, não sei) em que ele faz as suas escolhas. Vamos nos falando, será possível?
José Antonio Meira da Rocha,
Parabéns por rememorar, com tua matéria, o grande protagonista das artes gráficas no Brasil, Amilcar de Castro.
Caríssimo
Sou uma apaixonada pela arte da diagramação, apesar de ter trabalhado somente em jornal impresso. Gostei muito das dados sobre a subjetividade discursiva da arquitetura gráfica, você poderia me ajudar.
obrigada
Prezado Meira, esse Guevara que trouxe técnicas novas de diagramação para o Brasil - foi o mesmo Che Guevara?
Olá, Abner.
Este era outro Guevara. Talvez parentes, não sei dizer...