Gravação digital de TV

Aqui estão dicas que resultaram de minhas experiências de gravação digital de TV com a placa Prolink PixelView PlayTV Pro, equipada com o chip BT878 (leia mais no artigo sobre a PixelView PlayTV Pro).

  • Preferencialmente, use cabos S-Video (Separate Video, erroneamente chamados também de S-VHS). O Set Top Box (STB) digital da operadora de TV a cabo Net tem uma saída destas. Ligue com a entrada S-Video da placa de captura através de uma cabo especial que deve ser solicitado à Net. A visita custa 34 reais para instalação. Ou compre o cabo S-Video pela internet por uns 130 reais na Ezaki. Os cabos S-Video evitam o efeito dot crawl (formigamento ou rastejamento) e são menos sujeitos à interferência eletromagnética.
  • Os logotipos da NetGeo abaixo, ampliados 200%, dão uma amostra comparativa da imagem obtida com cabo S-Video e cabo composite. O efeito de formigamento do composite é muito pior do que aparece, porque se mexe durante a reprodução. Também aparecem algumas faixas inclinadas devido à interferência eletromagnética. Esses defeitos se atenuam quando se assite à TV de longe, mas são um desastre quande se assite à TV no computador, de perto. Em desenhos animados é que o (d)efeito fica mais evidente. Objetos vermelhos também apresentam muito dot crowl.

    Imagem S-Video ampliada 200%.

    Imagem composite ampliada 200%.
    A imagem total está abaixo. O logotipo acima está no canto inferior direito.
  • Se não puder usar cabos S-Video, use cabo composite. Neste cabo, os sinais de luminância (preto e branco) e os sinais de crominância (cor da imagem de TV) são transmitidos pelo mesmo cabo, em freqüências separadas. Isso causa a invasão dos sinais de luminância pelo sinal de crominância, aparecendo então o efeito popularmente chamado de “formigamento de ponto” (dot crawl) entre imagens verticais ou inclinadas de cores diferentes e contrastantes. O efeito não aparece em objetos pretos ou brancos, pois é uma característica resultante do esquema de cores. Cabos composite também são mais sujeitos à interferência eletromagnética que os cabos S-Video. Os sinais de TV broadcast, cabo e de VHS são gravados em composite. Não conheço aparelhos de videocassete que tenham saída S-Video, mas, se houver, talvez não se obtenha grandes ganhos de qualidade, porque o composite original será traduzido para S-Video, em vez de entrar direto na placa de TV.
  • Para ver vídeos ou TV do computador para um aparelho de TV, também é melhor usar cabos S-Video. Portanto, procure comprar uma TV que tenha, no mínimo, entrada S-Video. Video Component (não confundir com o composite. Component tem três cabos, composite, apenas um) é o ideal.
  • Como programa para gravar, uma boa escolha é o VirtualDub ou VirtualVCR com o conjunto de codecs ffdshow. Este é uma coleção de bibliotecas de fonte aberta que grava em vários esquemas de compressão, entre eles o Xvid e o WM9. O ffdshow tem uma enorme quantidade de parâmetros configuráveis.
  • Tive melhor desempenho e melhor qualidade com ffdshow+xvid, uma passagem com cor RGB, 29,97 quadros por segundo, 640×480 pixels, desentrelaçamento tomoscomp. A cor YUY2 melhora o desempenho e diminui o tamanho dos arquivos porque é um esquema nativo da placa bt878 e é comprimido, mas produz mudanças na cor original e não permite a correção de gamma do driver argentino para a bt878. No ffdshow+Xvid, o modo de uma passagem com bitrate constante tem mais qualidade, mas gera arquivos maiores. Uma passagem com quantizer ou quality geram arquivos menores mas chapam as áreas que ficam fixas na imagem, de quadro para quadro.
  • Algumas versões modificadas do amcap, derivadas do código-exemplo da Microsoft, também são boas escolhas, e, no meu caso, tem resultado em arquivos mais compactados que os gerados pelo VirtualDub. O chato é que se tem que reconfigurar um monte de coisas cada vez que se entra no programa.
  • Pelo Amcap, coloco a saída RBG24, para que a correção de gama funcione pelo driver argentino da placa BT878. O preview pode ser em YUY9, mas o programa não deve estar configurado para mostrar o preview enquanto grava. Isso gasta muito poder de processamento. Para ver enquanto grava, o preview pin e o capture pin devem estar no mesmo modo (ou ambos em RGB24 ou ambos em YUY9). A resolução, deixo em 640×480, que é o máximo que o BT878 permite gravar. E é aproximadamente a quantidade de linhas que a TV broadcast e cabo transmite.
  • Curiosidade: a TV NTSC tem resolução de 482 linhas verticais (ou 486, segundo outras fontes) e cerca de 440 “linhas” horizontais (na verdade, 440 pontos diferentes — ou amostragens — em uma linha). Por isso, é razoável produzir material no formato SVCD, que tem resolução de 480 x 480 pixels e guarda bem meia hora de vídeo num CD comum. Uma fita VHS grava em 480 linhas por 240 amostragens cada linha.
  • Tenho achado melhor desentrelaçar a imagem da TV durante a gravação. Isto gera imagens na TV de melhor qualidade e colabora um pouco com a compactação. Apenas o FFdshow permite desentrelaçamento enquanto se grava.
  • O equipamento que me deu melhores resultados é um AMD Sempron 2800+. Com ele, consigo gravar videos com resolução de 640 x 480 e 29.97 quadros por segundo. Ou seja: qualidade total de TV. Ainda sobra um pouco de processamento, que é usado em seqüências com muito movimento. Mas só o Xvid permite bom aproveitamento do poder de processamento. Com o codec Windows Media 9, o processador roda no limite e há perda de alguns quadros.
  • Em micros menos poderosos, é melhor gravar com 15 quadros por segundo. Os olhos humanos não notam muito a diferença. Também é recomendável reduzir a resolução para 480 x 480 pixels e produzir o material em formato SVCD.
José Antonio Meira da Rocha

Jornalista, professor das áreas de Editoração e de Mídias Digitais na Universidade Federal de Santa Maria, campus cidade de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil. Doutor em Design pelo Programa de Pós-Graduação em Design (PGDesign)/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, 2023. Mestre em Mídias pela UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2003. Especialista em Informática na Educação, Unisinos, 1976.

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