Este artigo é uma ampliação daquele publicado em ROCHA, 2000.
Jornalismo Online (JOL) pode ser definido como a coleta e distribuição de informações por redes de computadores como internet ou por meios digitais. Os holandeses Bardoel e Deuze usam um nome específico e adequado para esta produção: network journalism, o jornalismo em rede. Já o professor de jornalismo californiano Doug Millison pensa em uma abrangência maior:
“Online” inclui muitos foros. O mais proeminente é a World Wide Web, além de serviços comerciais de informação online como a America Online. Mensagens simples de e-mail pela internet também têm um grande papel. Também importantes são os CD-ROMs (…) além de intranets e sistemas discados de quadro de avisos (BBS). (Millison, 2005)
Ainda há outras tecnologias que podem ser incluídas nesta lista: a edição de sistemas de ajuda (help) de computadores, como o Windows Help e o HTML Help, e apresentações de slides para palestras.
Independentemente de suas múltiplas definições, o jornalismo online apresenta algumas características específicas em relação a aspectos que quase sempre existiram nas mais diversas mídias, em diversos graus.
Segundo uma pesquisa informal entre usuários de um site sobre JOL,
cerca de 41% dos participantes apontaram que a instantaneidade é o que mais caracteriza o webjornalismo. A interatividade aparece em segundo lugar, com 28,11%. Já cerca de 19% apontaram que o fato das notícias ficarem arquivadas para pesquisa é o que mais chama a atenção (JORNALISTAS DA WEB, 2005).
Outros autores (MEIRA, 2000; PALACIOS, 2001b; MIELNICZUK, 2001) ampliam essa lista. Para eles, as características mais interessantes do Jornalismo online são:
O grau de instantaneidade – a capacidade de transmitir instantaneamente um fato – das publicações em rede aproxima-se do atingido pelo rádio, o mais alto entre as três mídias tradicionais, seguido por TV e jornal. É muito rápido, fácil e barato inserir ou modificar notícias em formato binário.*
Também conhecido como arquivamento ou memória. O material jornalístico produzido online pode ser guardado indefinidamente. O custo de armazenamento de informação binária é barato. É possível guardar-se grande quantidade de informação em pouco espaço, e essa informação pode ser recuperada rapidamente com busca rápida full text**.
As mídia tradicionais sempre tiveram algum tipo de interação, como nas seções de cartas de jornais e TVs e nos telefonemas para programas de rádio (talk radio). Mas no JOL a interação atinge seu ponto máximo:
O JOL usa vários tipos de mídia e de formatos de arquivos de computador. Se diz que é uma convergência de todas as mídias:
Segundo a enciclopédia coletiva Wikipedia,
“Um hiperlinque, ou simplesmente linque, é uma referência em um documento hipertextual para outro documento ou recurso. Como tal, ele é similar às citações em literatura”.
Por exemplo, clicando no hiperlinque Instituto Poynter, você instruirá o seu programa leitor de página Web a buscar e a apresentar em sua tela as informações que formam a página Web do instituto de ensino de Jornalismo. Este link azul sublinhado é representado assim no texto interno da página Web:
<A href="http://poynter.org/">Instituto Poynter</A>
Usar sistemas de hipertexto é chamado de “navegar”, em português brasileiro, em função do programa Netscape Navigator.
O uso de hiperlinques em conteúdo multimídia (áudio, vídeo, fotos, animações) é chamado de hipermídia. Tecnicamente, não há diferenças em fazer linques em texto ou em imagens.
Mídias tradicionais também usam hiperlinques, como o sistema de sumário e número de páginas de livros, os sistema de organização da Bíblia, as chamadas de capa de jornais.
Como toda a informação está sendo tratada por computadores, é rápido colher informações sobre usuários/leitores e oferecer a mídia que mais interessa a ele. Esta personalização de conteúdo pode se realizar de diversas maneiras:
As novas formas de busca e apresentação de notícias, como os agregadores de notícias (news feeds RSS) e Google News, fazem com que qualquer jornal esteja em pé de igualdade na concorrência por leitores. Jornais de grandes centros competem de igual para igual com jornais regionais. Isto aponta para a necessidade de maior atenção na redação de títulos.
Os títulos de matérias online devem ter todas as características dos títulos tradicionais, só que em espaço mais reduzido. Algumas dicas:
Como toda nova mídia, esta também recebe influências das mídias pré-existentes, enquanto procura sua própria identidade.
A transcrição de matérias da mídia impressa é o primeiro e mais rápido caminho para um jornal de papel entrar na internet. CTRL+C e CTRL+V (teclas para cortar e colar texto em computador) são a versão contemporânea da “recortagem” ou “gilette press“.
Os jornais também podem colocar a edição na rede no formato de arquivo PDF (Portable Document Format), criado pela Adobe para ser o padrão de documento binária para armazenamento e difusão por redes de computadores. O PDF permite que se veicule um fac-símile da versão impressa do jornal, que pode ser ampliado na tela milhares de vezes e impresso em qualquer impressora doméstica, em qualquer tamanho. Um dos melhores exemplos do uso de arquivos PDF no jornalismo online é o site Newseum, que apresenta a primeira página atualizada de jornais de todo o mundo.
Mídia eletrônica são rádio e TV. Computadores não estão incluídos na categoria porque vão além do eletrônico, usando lógica binária para formatação de informações. Computador é, portanto, mídia binária.
O som pela internet ainda é de baixa qualidade e com constantes lapsos, mas é uma maneira pela qual estações de rádio tradicionais alcançam audiência mundial.
As “estações de rádio internet” (sites que armazenam som binarizado) permitem que você crie programação e deixe gravações disponíveis para quem quiser ouvir. A desvantagem é que um número limitado de pessoas pode acessar ao mesmo tempo uma estação de rádio internet, ao contrário do rádio broadcast.
O texto de rádio é o que mais se adapta para jornalismo em rede, pela concisão, estilo direto, informalidade.
Os maiores sites jornalísticos já publicam pequenas matérias em vídeo. Existem programas, como o Real Video, que têm “canais” de vídeo streaming***. Como no caso do áudio, os clips de vídeo são de baixa qualidade e podem ter o movimento ou o áudio interrompidos por alguns instantes, conforme o congestionamento da rede. A BandNews, no entanto, consegue transmissões com razoável qualidade, em internet banda larga.
Visualmente, animações em formato Flash, cada vez mais usadas em sites multimídia, são inspiradas em vinhetas de TV.
Está sendo bastante usado por jornais e revistas a ligação visual entre palavras do texto e elementos gráficos como fotos e textos explicativos (box), imitando a ligação lógica do hipertexto.
O estilo de texto para a internet deve ser curto, na ordem direta, com palavras-chave destacadas, em blocos de cerca de cem palavras, no máximo. O estilo deve ser informal, porque internet é um meio de comunicação individual e pessoal. Esta economia de palavras (que as valoriza, pois as torna raras) encontra eco, em 2000, em dois dos jornais de maior tiragem do Rio Grande do Sul, Correio do Povo e Diário Gaúcho.
O apelo visual nos websites também tem influenciado a mídia impressa, que usa mais cor, produz mais infográficos e aumenta a hierarquia de estilos de texto nos veículos, como a revista Época e o Diário Gaúcho.
As rádios e os pequenos jornais regionais**** estão coletando muita informação na internet graças ao acesso a centenas de fontes que auxiliam a pesquisa noticiosa:
Muitos autores se entusiasmem com características como multimediação e interatividade, e consideram que o conteúdo online deve ser repleto de movimentos, hiperlinques e outros truques. No entanto, produção digital custa caro, em termos de recursos humanos. E o conteúdo publicado em redes não precisa conter obrigatoriamente todos os recursos tecnológicos disponíveis, só porque eles existem.
Considero, então, que não há um “formato para a internet” ou “formato para a Web”. Existem diversas maneiras de se usar textos e outros conteúdos na mídia em rede. Cada uma tem uma aplicação determinada, com vantagens e desvantagens.
O texto da mídia papel (tipo livro ou artigo) é transposto sem modificação para a rede.
Texto tradicional para papel, mas vertido para o formato hipertexto, com links para notas de rodapé e para outros textos.
Texto reescrito ou produzido especialmente para ser lido em tela de computador. Informação em “cachos” (blocos de 100 palavras ou menos), uso extensivo de hyperlinks, listas com bolinhas, entretítulos.
Texto e imagens de áudio e vídeo pensados e editados para serem distribuídos em hipermídia.
Você pode encontrar mais dicas sobre como escrever para a Web no trabalho de conclusão de Cristina Pacheco e na matéria em hipertexto de Carole Roch.
Apesar do apelo charmoso da Web, a aplicação mais útil e utilizada da internet é o correio. Com ele, você não só se comunica pessoa-a-pessoa (o que lhe dá grande influência), como troca qualquer tipo de arquivo de computador, como foto, áudio, vídeo, texto, animação. E o correio também deve ser visto como uma poderosa mídia.
Até mesmo sites da Web se promovem através de newsletters, boletins criados com os parcos recursos do correio. Todo o site bem planejado deve ter um link para o internauta assinar uma newsletter. Na mensagem, o editor do site deve colocar breves descrições das novidades no site, com um link Web em que o leitor pode clicar para conferir imediatamente o assunto.
É um recurso que existe em alguns programa de correio: uma lista com centenas de endereços de mail para onde você envia uma mensagem de uma só vez.
Existem programas específicos para manipular listas de discussão, mas uma opção barata e poderosa é o Pegasus Mail, programa de correio gratuito para ambiente Windows e Macintosh. Ele permite que você envie um texto para centenas de pessoas ao mesmo tempo. Um sistema de filtragem de mensagens recebidas permite que se cadastre ou cancele a assinatura de listas dependendo do conteúdo da mensagem. Por exemplo, uma mensagem com a palavra subscribe no título faz com que o remetente seja anexado à lista de pessoas que devem receber determinada newsletter. A palavra unsubscribe pode tirar o endereço do remetente da lista.
Para que sua mensagem seja mais efetiva, você deve dar atenção aos seguintes aspectos de uma newsletter por correio:
O título (subject, assunto) é o único gancho que o editor de uma publicação tem para fisgar a atenção dos leitores. Quem recebe dezenas de mensagens por dia abre apenas as mais interessantes e descarta as outras com base no título. Uma mensagem com título “Informativo n.153“, tem mais chances de ser apagada do que uma com “Anatel à CRT: estamos de olho em vocês!”. Para aproveitar espaço, o nome da newsletter deve estar no endereço de mail do remetente, para não desperdiçar espaço do subject com isto.
No topo da mensagem ficam o “logotipo”, uma linha explicativa sobre a newsletter, a data e o número da publicação.
É importante que você explique que o leitor recebeu sua newsletter porque a assinou, e que ela não é enviada sem ser solicitada. O spam (divulgação de mensagens para milhares de pessoas que não a solicitaram) é uma das práticas mais odiadas da internet. Por isso, o leitor não deve ter dúvidas de que ele mesmo pediu para receber sua mensagem.
O correio em geral não tem grandes recursos de formatação de texto e cores. Um anúncio poderia ser confundido facilmente com conteúdo editorial. Por isso, os anúncios devem ter linhas separando-os do resto da newsletter. As palavra “publicidade”, “anúncio” ou “comercial” devem estar na primeira linha separadora.
Você deve deixar ao leitor a possibilidade de cancelar a assinatura da newsletter a qualquer momento. Em alguns sistemas, basta que o leitor responda à mensagem. Em outros, deve-se enviar uma mensagem com a palavra “unsubscribe” no campo Subject.
O pegasus mail permite que se personalise uma newsletter com textos variáveis. Verifique o Tutorial sobre mail merge com Pegasus Mail.
Os modernos programas leitores de mail mostram URLs (endereços Web ou de mail) como links, sem que o editor precise colocar formatação especial.
Existe a possibilidade de se enviar mensagem em formato HTML (com páginas Web), com texto em tamanhos e fontes diferentes, cores, imagens fixas, imagens de áudio e vídeo. Embora existam “cruzadas” contra mails em HTML (porque ocupariam muita largura de banda*****), você não precisa abrir mão destes recursos de imagem. Dê ao assinante oportunidade de escolher se quer receber mails não-formatados ou com recursos hipermídia.
O texto, é claro, ainda é o elemento mais importante de qualquer publicação. Quem tem bom texto para jornal de papel, rádio ou TV, terá bom texto para JOL. Só precisa entender como o internauta lê: ele apenas passa os olhos pelas telas à procura de palavras-chave. Não tem tempo para as grandes elucubrações mentais exigidas por figuras de linguagens do tempo do texto corrido, nem paciência para textos longos…
O jornalista online deve não apenas saber escrever, mas saber como dispor o texto no suporte. Tem que conhecer tipos de letras, composição visual, uso de cores, corte e edição de fotos, áudio e vídeo. Não precisa saber desenhar, mas deve saber usar infografia e ser capaz de criar um gráfico informativo a partir de dados numéricos, para ilustrar uma matéria.
Quase tudo na internet é em inglês. Compre imediatamente seu dicionário. E instale no seu computador programas como o Babylon Translator.
Você precisa saber se virar sozinho, se seu maldito Windows começar a dizer algo simpático como “Você executou uma operação ilegal. Falha geral do aplicativo, OK?”. E precisa saber como procurar – produtivamente — por algum tema específico na floresta binária da internet.
O mercado para jornalista online já está aquecido. O jornal de papel, o rádio ou a TV que não tiverem sua contraparte binária estarão logo ultrapassados. Assim, pelo menos uma vaga existe em toda a redação: a do jornalista que coloca na Web matérias feitas para outras mídias. Mais empresas de comunicação estão desenvolvendo redações especificamente para a internet, e a disseminação de acesso por cabo de TV e por rádio exigirá muitos profissionais multimídia.
Depois que estourou a “bolha” de entusiasmo pela internet, em 2000, o mercado para profissionais da Web encolheu. Mas apenas na Web, que é um mercado limitado, de qualquer forma. O maior mercado para os conhecimentos de tecnologia online está nas empresas e nas assessorias de imprensa empresariais, porque empresas médias e grandes começam a desenvolver suas páginas Web e suas intranets e já precisam de quem desenvolva conteúdo e press kits para estes novos canais de informação.
Portanto, o futuro para o jornalista online será tão brilhante que ele precisará usar óculos escuros para ver direito.
* Considero que a tecnologia de computadores atuais deve ser chamada de binária, e não de digital. O fato de trabalhar com lógica binária é que torna os computadores tão poderosos. Eles trabalham relativamente pouco com informação digital (numérica).**Busca full text é aquela usada por bancos de dados que armazenam todas as palavras significativas de um documento, e não apenas palavras-chave.
***Vídeo em corrente, exibido conforme vai sendo recebido pelo computador multimídia. As informações são descartadas depois de exibidas, não ficando gravadas em forma de arquivo no disco do computador. Assim, podem ser enviadas grandes quantidades de informações sem ocupar espaço no disco do usuário.
****Pequenos ou regionais, e não jornais do interior, porque não há mais interior, depois da internet. Qualquer cidade com linha telefônica não está mais no interior.
*****Largura de banda é a capacidade de transmissão de dados na internet, medida em bits por segundo. A chamada largura de banda estreita é um limitante para o crescimento da internet.
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Professor José, muito obrigado pelo excelente apanhado sobre o assunto. Acabei de ter uma verdadeira aula online sobre esse fantástico mundo da web. Um forte abraço
Obrigado pelo prestígio, Epifanio!
Considere que este é um artigo antigo, e muita coisa já aconteceu na internet, como blogs, redes sociais, Twitter, etc.
Olá, Amália!
As respostas para as primeiras duas perguntas você encontra no texto acima. A resposta para a última está na entrevista que dei para o famoso Exu Caveira Cover, prof. Jorge Rocha, de Minas: http://www.verbeat.org/blogs/exu/2007/09/eentrevista_jose_antonio_meira.html
Como o meu artigo acima está um tanto datado, complemento a segunda pergunta com o fenômeno dos blogs, que devem ser levados em consideração pelo jornalista online. Hoje, a participação do leitor é muito importante, e os blogs fazem isto muito bem. Jornalistas online devem se espelhar na atuação dos escritores online.
Olá, eu sou estudante de Jornalismo da FIAMFAAM, São Paulo, e estou fazendo uma reportagem sobre Jornalismo Online. Gostaria que, se possível, vocês me respondessem às seguintes breves perguntas:
1) Qual é o conceito de Jornalismo Online?
2) Como ele está revolucionando o Jornalismo tradicional?
3) Qual o papel que deverão assumir os jornalistas convencionais a partir do crescimento do Jornalismo Online?
Aguardo resposta o mais breve possível,
Grata pela atenção.
Amália Mazloum